2.1 – Conceito

Para elaborar um conceito geral para o termo cultura organizacional, torna-se necessário analisá-lo do ponto de vista antropológico. Primeiramente, deve-se estabelecer, ainda que provisoriamente, uma compreensão do significado do termo “cultura”, que se configura como pressuposto geral para tudo o que dele deriva. Assim, a conceitualização dar-se-á em duas etapas: a primeira consiste no resgate conceitual do termo cultura; e a segunda, que tem a primeira como condição, consiste na construção de um conceito geral para cultura organizacional.

De acordo com Campos (2011), o termo cultura, que em si, construiu-se como um conceito universalmente validado, designa um conjunto de sistemas tão complexo que, para tornar possível uma compreensão adequada do mesmo, será necessária a busca pela substância da palavra enquanto tal. O termo, originário do latim, “colere“, utilizado para assuntos da agricultura, significa cultivar, e adquiriu, do ponto de vista histórico e antropológico, poder semântico universal. Isso significa que, desde a sua origem, vem ampliando seu campo de significação através do peso que cada momento histórico e contextual lhe fornece. Seehaber (2011) aborda que:

[…] cultura denota um padrão de significados incorporados aos símbolos e historicamente transmitidos. Expressões de forma simbólicas por meio dos quais os homens se comunicam, perpetuam e desenvolvem seus conhecimentos e suas atitudes em relação à vida.

De uma forma simplista, pode-se, fixar o significado de cultura como sendo o conjunto de conhecimentos, crenças, leis, costumes etc., produzidos pelo homem em comunidade. Entretanto, para efeito do presente estudo, cultura é alguma coisa provisoriamente indefinida enquanto conceito. Isto, considerando o conjunto de relações que se pode estabelecer entre todos os contextos cronológicos e as suas respectivas circunstâncias atemporais; os ambientes físicos e as noções subjetivas a ela intrínsecas.

Desse modo, faz-se necessário uma investigação aprofundada em torno do objetivo de conceitualização do termo, para efeito de demonstração do caráter de relacionalidade das coisas quanto ao conjunto de conhecimento acumulados pela Humanidade. O que significa dizer que, de acordo com o senso comum, a visão idealizada disto a que se chama cultura, é limitada em virtude do desprezo pela apreciação dos aspectos históricos e doas valores cultivados em cada época, que, por sua vez, determinaram cada sistema cultural dos povos, sociedades, comunidades e grupos havidos nos diferentes momentos.

Retomando o termo “colere“, originário do latim, que significa cultivar, pode-se resgatar o sentido amplo da palavra. Se, em seu sentido original, cultura significa cultivar, então, é possível reconstruir o seu conceito com a semântica que o conjunto de conhecimentos acumulados pela sociedade contemporânea exige. Santos (2006, p. 110) define cultura da seguinte forma:

Assim, cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza a existência social de um povo ou noção, ou então de grupos no interior de uma sociedade. Podemos assim falar na cultura francesa ou na cultura xavante. Do mesmo modo falamos da cultura camponesa ou então na cultura dos antigos astecas. Nesses casos, cultura refere-se a realidades sociais bem distintas. No entanto, o sentido em que se fala de cultura é o mesmo: em cada caso dar conta das características dos agrupamentos a que se refere, preocupando-se com a totalidade dessas características, digam elas respeito às maneiras de conceber e organizar a vida social ou a seus aspectos materiais.

Desse modo, pode-se, finalmente restaurar o conceito de cultura como sendo o fenômeno cujo significado está estreitamente ligado ao cultivo e a manutenção de todo o conjunto das atividades humanas realizados em comunidade; a todas as relações que os homens formam entre si relativamente ao meio no qual estão integrados; ao resultado do processo de interação humana que engendra os mecanismo de comunicação e de linguagem necessários para a troca de experiências, que, por sua vez, determinam o conjunto de conhecimentos, crenças, leis, costumes, etc., produzidos pelo homem em comunidade.

Realizada esta primeira etapa, que consistiu em construir um entendimento mais apropriado quanto ao que, corriqueiramente, denomina-se cultura, cria-se condições para realizar a segunda, que é propriamente a busca da compreensão do que vem a ser cultura organizacional.

Robbins (1999, p. 374) enfatiza a mudança das organizações nos últimos tempos, tendo por base que:

Até meados dos anos 80, as organizações eram, em sua maior parte, simplesmente tidas como um meio racional pelo qual se podia coordenar e controlar um grupo de pessoas. Elas tinham níveis verticais, departamentos, relacionamentos de autoridade e assim por diante. Mas organizações são mais do que isso. Elas têm personalidade também, como os indivíduos. Elas podem ser rígidas ou flexíveis, hostis ou amigáveis, inovadoras ou conservadoras

Classificando uma organização como uma comunidade na qual se produz infinitos processos de interação humana, e, onde se realizam constantes trocas de experiências baseadas num sistema particular de linguagem, pode-se dizer que, por suas relações com a sociedade, por suas intervenções quanto ao meio, e pelo conhecimento que gera para a humanidade, as organizações empresariais são instituições dotadas de personalidade. Essa personalidade começa a ganhar corpo a partir do seu surgimento, do mesmo modo que ocorre com as pessoas.

Ao inserir o conceito de cultura na organização, Schein (2009, p. 1) descreve:

Quando alguém introduz a cultura no plano da organização e de seus grupos internos, pode-se ver claramente como a cultura é criada, inserida, envolvida e, finalmente, manipulada e, ao mesmo tempo, como restringe, estabiliza e fornece estrutura e significado aos membros do grupo.

O conjunto de atividades e comportamentos desenvolvidos nas organizações pelas pessoas a elas vinculadas gera quadros contextuais que se configuram como a cultura da instituição. Essa cultura, determinada pela práxis da organização através dos seus costumes e posturas, geram os pressupostos segundo os quais a empresa será reconhecida perante a sociedade.

Assim como as pessoas, as organizações empresariais constroem patrimônios culturais que poderão tornar-se suas marcas mediante a postura que assumem quanto às necessidade da sociedade. Isso significa que, muitas podem ser as atividades e naturezas das organizações, porém, o registro que individualmente deixam para a sociedade é a forma de com ela relacionar-se. É na relação com a sociedade que a organização adquire identidade, e é por meio desta relação que adquire personalidade. A propósito disto Farias (202) assinala que:

Os elementos sígnicos existentes na organização – expressões verbais e visuais – em conjunto com as mensagens expressas por produtos, propaganda e relações públicas, inseridos no contexto organizacional – que é estruturado pelo inter-relacionamento das pessoas -, estruturam a formação da cultura, que deve, por sua vez, dar moldes à identidade.

Contudo, apesar de as organizações instituírem, através de sua práxis, uma personalidade junto à sociedade, considera-se que esta identidade é construída pelas pessoas que dela participam. Dessa forma, um estudo relativo à cultura organizacional de uma empresa, só será completo se levar em conta os aspectos antropológicos do processo. Eles não podem, sob qualquer hipótese, ser ou estar dissociados da construção da personalidade jurídica.

Visando a satisfazer esta condição, no presente estudo, adotar-se-á, a linha de pensamento que privilegia o aspecto cognitivo da antropologia cultural, sem contudo, descartar os aspectos simbólicos e estruturais. Ressaltando-se ainda, que, considerando o universo específico que, individualmente, cada organização se constitui, a análise será baseada no conceito de administração comparativa, segundo o qual:

o foco está no contexto cultural mais amplo e sua influência sobre os membros da organização, os quais fazem uma espécie de transposição deste contexto amplo para o universo organizacional, e organizam suas atividades com base no que para ele transposto. (FREITAS, 1991, P. 5)

Freitas (1991, p. 6) afirma ainda, como pressupostos desta concepção, as noções de que:

[…] o mundo social se apresenta em termos de relacionamentos gerais e contingentes, a organização é vista como um organismo; organização e cultura são abordadas através do estudo de modelos de relacionamento dentro e fora das fronteiras organizacionais.

O que se leva a crer que, sendo uma instituição empresarial, um organismo vivo no sentido fisiológico, cultura organizacional é o fator preponderante quanto às práticas e funcionalidades de cada uma das partes constituintes do todo, ou seja, da organização.


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